quinta-feira, 1 de março de 2012

Sou carioca de Niterói

Mais uma vez, a globo arrasou na vinheta em homenagem ao aniversário do Rio: 447 anos!!!
Super me identifiquei, já que sou da cidade vizinha!!!
E lembrei da Bia na hora, que ama essa cidade e pode dizer: Sou carioca de Brasília!!!


Versão 1


Versão 2

Versão 3

 
Carioca

CARIOCA, como se sabe, é um estado de espírito: o de alguém que, tendo nascido em qualquer parte do Brasil (ou do mundo) mora no Rio de Janeiro e enche de vida as ruas da cidade.

A começar pelos que fazem a melhor parte sua população, a gente do povo: porteiros, garçons, cabineiros, operários, mensageiros, sambistas, favelados. Ou simplesmente os que as notícias de jornal chamam populares: esses que se detêm horas e horas na rua, como se não tivessem mais o que fazer, apreciando um incidente qualquer, um camelô exibindo no chão a sua mercadoria, um propagandista fazendo mágicas. A improvisação é o seu forte, e irresistível a inclinação para fazer o que bem entende, na convicção de que no fim da certo — se não deu é porque não chegou ao fim.

E contrariando todas as leis da ciência e as previsões históricas, acaba dando certo mesmo porque, como afirma ele, Deus é brasileiro — e sendo assim, muito possivelmente carioca.

Pois também sou filho de Deus — ele não se cansa de repetir, reivindicando um direito qualquer. Que pode ser pura e simplesmente o de dar um jeitinho, descobrir um ‘macete’, arranjar lugar para mais um.

Toda relação começa por ser pessoal, e nos melhores termos de camaradagem. Para conseguir alguma coisa em algum lugar conhece sempre alguém que trabalha lá: procure o Juca no primeiro andar, ou o Nonô, no Gabinete, diga que fui eu que mandei. Até os porteiros, serventes ou ascensoristas têm prestigio e servem de acesso aos figurões. Todo mundo é ‘meu chapa’, ‘velhinho’, ‘nossa amizade’. Todos se tratam pelo nome de batismo a partir do primeiro encontro.

E se tornam amigos de infância a partir do segundo, com tapas nas costas e abraços efusivos em plena rua, para celebrar este extraordinário acontecimento que é o de se terem encontrado.

A maioria dos encontros é casual, e em geral em plena rua — pois ninguém resiste às ruas do Rio: a gente se vê por ai, quando puder eu apareço. Os compromissos de hora marcada são mera formalidade de boa educação, da boca para fora. Mesmo estabelecido, de pedra e cal, há uma sutileza qualquer na conversa, que escapa aos ouvidos incautos do estrangeiro, indicando se são ou não para valer. Na linguagem do carioca, ‘pois não’ quer dizer ‘sim’, ‘pois sim’ quer dizer ‘não’; ‘com certeza’, ‘certamente’, ‘sem dúvida’ são afirmações categóricas que em geral significam apenas uma possibilidade.

Encontrando-se ou se desencontrando, como se mexem! As ruas do Rio, mesmo em dias comuns, vivem cheias como em festejos contínuos. Todos andam de um lado para outro, a passeio, sem parecer que estejam indo especialmente a lugar nenhum. As esquinas, as portas dos botequins e casas de comércio, os shopping-centers cada vez mais numerosos, todos os lugares, mesmo de simples passagem, são obstruídos por aglomerações de pessoas a conversar em grande animação.

E como conversam! Falam, gesticulam, cutucam-se mutuamente, contam anedotas, riem, calam-se para ver passar uma bela mulher, dirigem-lhe galanteios amáveis, voltam a conversar. Ninguém parece estar ouvindo ninguém, todos falam ao mesmo tempo, numa seqüência de gargalhadas. Em meio à conversa, um se despede em largos gestos e se atira no ônibus que se detém para ele fora do ponto, a caminho da Zona Sul.

Copacabana, Arpoador, Ipanema, Leblon — praias cheias de cariocas, como se todos os dias da semana fossem domingos ou feriados. Espalhados na areia, ou andando no calçadão, se misturam jovens e velhos de calção, mulheres em sumárias roupas de banho, gente bonita ou feia, alta ou baixa, magra ou gorda, na mais surpreendente exibição de naturalidade em relação ao próprio corpo de que é capaz o ser humano.

Do Leblon em diante, convém por hoje não se aventurar: São Conrado, Barra, Jacarepaguá, Floresta da Tijuca — o dia não terá mais fim. Em vez disso, se o visitante, depois de se deslumbrar com a Lagoa Rodrigo de Freitas, dobrar uma esquina do Jardim Botânico, Botafogo ou Flamengo, de repente se verá numa rua sossegada, ladeira acima, com casarões antigos cobertos de azulejos que o atiram aos tempos coloniais. Laranjeiras, Cosme Velho — uma viela tortuosa o conduz a um recôndito Largo do Boticário, de singela beleza arquitetônica, que faz lembrar Florença.

Se o visitante subir esta outra rua, logo se verá cercado de verde por todos os lados, à sombra de frondosas árvores onde cantam passarinhos e esvoaçam borboletas — podendo até mesmo surpreender num galho as macaquices de um sagüi.

E do alto do morro, verá a paisagem abrir-se a seus pés, exibindo lá embaixo a cidade inteira, do Corcovado ao Pão de Açúcar, entre montanhas e o mar. Depois de admirá-la, sentirá vontade de integrar-se a ela, regressar ao bulício das ruas e ao excitante convívio dos cariocas.

A partir deste instante estará correndo sério risco de ficar no Rio para sempre e se tomar carioca também.

FERNANDO SABINO (1923-2004) foi escritor e jornalista. Crônica extraída de "Livro Aberto", Editora Record, 2001.

Beijosssssssssssssssss
┌──»ʍi૮ђα

11 comentários:

  1. vcs são pessoas privilegiadas kkk


    preciso voltar e te visitar né? kkk


    Beijos

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  2. Micha, acho que sou carioca então! rs Não moro mas amo essa cidade... E sinto falta do tempo em que ia passar as férias aí.

    Adorei o texto :D
    Beijo!

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  3. SOU CARIOCA (do Morro do Alemão)filha de cariocas!
    Não sou da gema pq minha mãe não é galinha...hahahaha
    Deixei pra vc fazer um texto lindo,viu
    Não tô afim de anônimos perturbados hoje!
    heheheh
    Fui totalmente didática!
    Pra mim Rj e Nikity estão unidos e são lindos!

    Tudo de bom!
    Beijaum

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  4. Sou carioca de SP! Não me canso de repetir que desde a primeira vez que estive aí me senti acolhida, não só por você e sua família, mas tb pela cidade maravilhosa é encantador o Rio, apesar da violência.
    Amo demais e tb Nikiti.
    Pretendo voltar aí, se Deus quiser.
    Big Beijos

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  5. Ahhhhhhhhhhh!!!!!!!!!! Também sou carioca!!!!!! Carioca de Belo Horizonte uai!!!!!!!!!rsrs
    Lindo seu post!!!! bjos e boa sexta!!!

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  6. Anônimo1:50 PM

    e eu sou carioca MESMO. mas o meu coração, não sei porque, bate feliz, só quando vê... CABO FRIO! mas o rio é lindo, tem muitos lugares especiais mesmo! merece parabéns!

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  7. Que crônica maravilhosa!!
    Quem mora no Rio, não esquece jamais! ;)
    Boa semana!!
    Beijus,

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  8. Micha, tô beeem atrasada, mas em tempo de dizer que tb sou carioca de Niterói, que amo o Rio e estou amando estar aqui de novo! Amei o post! beijocas!

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  9. Realmenteeeeeeee essa vinheta foi o máximo!!!!

    Dá até um arrepio da delícia que é!!!!

    Ser carioca é o prazer da minha vida! Olhar as praias, caminhar na orla, ver as montanhas!!! ai ai

    Beijos saltitantes
    Boa semana

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  10. Eu nasci no Centro da Cidade, no miolinho mesmo... no Hospital dos Servidores do Estado - IASERJ, perto, digo, ao lodo do INCA (não sei pq a sigla é assim... deve ser Instituto de Assistência aos Servidores... neh?)
    Meu pai era Policial Civil... enfim, mas me sinto tão carioca qto Bia e qto todos os outros que amam o Rio de Janeiro, um lugar lindo, que poderia e deveria ser tão bom de ser morar, em termos de adicionais... segurança, saúde, educação, emprego... qto é prazeroso de viver. Os cariocas são felizes pelas graças de Deus, que abençoa o povo mal tratado.

    Linda homenagem, Micha.

    Esse dia 01.03, é um dia muito complicado para mim, daí, preferi ficar calada.

    Bjos

    E.T.: o primeiro vídeo começa no Centro de Bangu. Não sei se vc conhece.

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