O dia em que o Rio parou...

Saí pra trabalhar ontem, normalmente como sempre faço, às 5h45 da manhã. Fui pra uma escola que dou aula no Centro do Rio, fiz teatrinho de Páscoa pras crianças, com meus 2 amigos de trabalho, tudo certo.

Aí de noite a jornada continua em Caxias, e lá fui eu. Em torno das 18h começou a chover, e às 18h30 avisei a coordenadora que estava indo embora, que nem ia dar aula por conta da chuva. Comuniquei a turma que tava correndo do temporal (só tem adultos) e fui embora.

Peguei logo um bus e fiquei aliviada, crente que ia chegar logo em casa. Na Av. Brasil o caos estava instalado já. Ficamos 3 horas (isso mesmo, 3 HORAS), parados no mesmo lugar. Tudo ilhado e sem chance de sair de lá.Tirei meu esmalte diamante roxo todo das unhas e as roí também. Aff!!!!!

Um liga liga sem fim, mãe, marido, irmãos, amiga... E eu ali, tensa.

Desci na rodoviária Novo Rio às 23h51 e tive a ideia de pegar um ônibus pra Região dos Lagos, que fizesse parada na rodoviária de Niterói (carregar cartão de crédito na bolsa tem essas vantagens, de salvar de alguns perrengues). Tinha um indo pra Cabo Frio que saíria às 23h59 (horário engraçado esse, né?), comprei passagem, desci pra plataforma 33 pra esperar o bus. A fome, o frio, e a calça e tênis molhados eram mero detalhes. Além de não ficar em pé no temporal (guarda-chuva não resolvia nada), num ponto de ônibus lotado, esperando um ônibus que nunca chegava, pude pagar R$1,25 pra fazer um pipi no banheiro semi-limpo.

O ônibus saiu às 00h30 e 1h eu já estava em Niterói. A chuva não dava trégua. A frustração veio quando vi que não tinha um táxi sequer e muitas e muitas pessoas cheias de mala esperando por um também. Sentei numa das cadeiras, toda encolhida de frio e fome (não tinha lanchonete aberta!!!) e resolvi passar a noite lá.

Mas minha mãe conseguiu contato com um taxista amigo e ele enviou um outro amigo pra me buscar. Os demais que lá estavam, queriam me matar, falando EU TÔ NA FRENTE e eu falei EU LIGUEI PRA ELE E ELE VEIO ME BUSCAR!!! Coisa de louco total.

Aí sim, achei que estava bem. Que nada!!! Rodamos, rodamos, rodamos, tentamos todos os caminhos possíveis pra chegar em minha casa e em cada um deles tinha árvore, pedras ou barranco no caminho.

Aí Con falou pra eu ir pra casa dos pais deles. EU QUERIA IR PRA MINHA CASA, MINHA CAMA, mas não teve jeito. E ainda estou na casa dos sogros. Hoje na hora do almoço, amore conseguiu chegar aqui, almoçamos todos juntos, ele trouxe roupa quentinha pra mim e casaco também, e daqui há pouco iremos pra nossa casa, que continua sem luz desde ontem.

Estão todos lá: mãe, irmã, irmão e sobrinho-afilhado-espetáculo, mas no escuro e sem telefone. A Vivo tá fora do ar, sem luz, a Livre (embratel) também tá fora. Só o nextel do meu irmão funcionando e sendo nossa comunicação (o da minha irmã descarregou a bateria e sem luz...). Ainda bem que a TIM não me deixou sozinha na pista.

Tô preocupada que não consigo falar com meu pai. Meu pai conseguiu me ligar às 18h, tá bem. Teve uma prima minha que perdeu tudo que tinha em casa. Deu 1m de chuva dentro do apê dela (ela mora no térreo).

Enfim, é isso. Escolas e repartições públicas sem funcionar. 95 mortos (48 deles em Niterói), muitas pessoas ainda na rua, ruas alagadas e a chuva não para.

A cidade de Niterói (que moro) decretou estado de luto, pelos 48 mortos e mais de 1000 desabrigados.

O negócio é rezar

Só Deus.

Obs.: Se eu tivesse ido ao show, além de pegar muita chuva, ia ficar virada para trabalhar (e não tinha como faltar, pelo teatro que faríamos pras crianças, só 3 personagens, se eu faltasse, já era a peça e eu jamais deixaria minhas crianças na mão) e quando passasse esse perrengue todo, não ia estar me aguentando em pé (bem dormida já não tava tanto, pois já estava há 22 horas na RUA).

Novo perrengue na volta minha e de Con pra casa, com parada de mais de uma hora no mercado para esparar o vendaval passar e tudo alagado demais. Mas chegamos bem. E graças a Deus agora a luz voltou (até fiz uns updates no post). Tirei umas fotos aqui do bairro pra vocês terem noção:

Ao descermos aqui na praia, nos deparamos com essa tristeza: mar barrento, muita sujeira...


E avistamos a barreira que desabou na Estrada Fróes, próxima a casa de Torben Grael


Con e a rua que passamos para chegar até a nossa, que não alagou, graças a Deus



Beijossssssssss